quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Como não me surpreender? O receio do sofrimento


O carnaval foi legal, praia, piscina, um dia de festa, um trio elétrico na praia e companhia agradável. Tudo perfeito. Perfeito não...Agradável, como a vida deveria ser.

Mas basta chegar e a vida real começa a tomar conta. Vem aos poucos com a quarta feira de cinza, totalmente cinza, literalmente cinza, cinza em todos os aspectos.

Como não me surpreender num dia desse se algo der errado?

As coisas começam a vir à tona. Não vou mais ligar, penso. Mas é inútil, continuo em choque.

Como não?Um dia você chega pro trabalho e descobre que seu colega é acusado de pedofilia, como não me surpreender?

Eu devia saber. Saber não, talvez me acostumar. A desgraça humana está em toda parte em sempre fica a dúvida.

O que as pessoas são capazes de fazer com outras pessoas que nada fazem?

Lembrei do filme do curso de cinema “A captura dos Freedman”. Ainda resta dúvida, até hoje resta dúvida, será que a história era realmente real? E essa agora, será que é? Pois sim, chego no trabalho e vejo que é real.

Como no Volver, Almodóvar não teria inspiração se as histórias não fossem reais...

Então era real... Não deveria me surpreender. Mas mesmo assim me surpreendo. Até quando. O que as pessoas são capazes de fazer?

É só pegar o ônibus e lá está a mãe, abaixando as calças... Do filho de três anos...(acho que era três) não! ela não vai fazer isso, penso... não mereço começar o dia assim... mas ela faz ... Me faz sentir repulsa ao ver o pênis deformado do filho ... desesperada em busca de dinheiro ... Tentei ignorar...Juro que tentei...Mas como não me surpreender?

A desgraça humana está por todos os lados...Não vou abrir mais meu e-mail, até aqui? O corpo de uma menina queimada vem me assombrar... Não vou me surpreender, penso. Em vão...Eu ainda me surpreendo.

O que eu vou pensar daqui a diante, será que os dias piorarão?

Não aqui não é o muro das lamentações. Alah não ouviria isso. Aqui é um espaço pra agradecer.


Agradecer sim, pois na minha estúpida ignorância e no auge no meu egoísmo, ainda tenho que agradecer, pois nada disso aconteceu comigo. Não é pra mim, penso. Mas quando vejo...Isso já me atingiu.

Vou ficar aqui, cada vez mais blasé... Até nada disso me surpreender mais... Uma pílula do dia seguinte e tudo está resolvido. Vou terminar o Kafka que me espera pacientemente do lado da minha cama.Ouvir New Order até a angústia doer... I would like a place I could call my ownHave a conversation on the telephoneWake up every day that would be a startI would not complain of my wounded heart...


Até nada mais me surpreender... Penso.